mas na altura, os nervos deram cabo de mim.
Ontem começou uma nova série do concurso "Quem quer ser milionário?". É um concurso que sempre gostei. Gosto do formato, gosto sobretudo de pôr à prova os meus conhecimentos.
Há uns anos atrás, na primeira série, decidi concorrer. Pensei: "isto é muita fácil, eu em casa farto-me de acertar nas respostas, de certeza que vou conseguir ganhar uma quantia jeitosa". E inscrevi-me mas sem grandes esperanças de ser chamada, que nestas coisas já se sabe que são cem cães a um osso. Mas fui mesmo chamada e fiquei super contente.
Nos dias que faltavam para a hora H, fartei-me de treinar aquela primeira parte em que se tem que ter rapidez no dedo, ou seja, ordenar qualquer coisa e ser o mais rápido a fazê-lo, para ir então lá para o meio responder às perguntas. Treinei, treinei até que me senti super rápida a ordenar mentalmente o que quer que fosse; por ordem crescente, decrescente, alfabética, ordenar no tempo, ordenar no espaço, ordenar ao contrário... enfim, estava segura que aquilo eram favas contadas e que só tinha de me preocupar em responder bem às perguntas.
Fui comprar roupinha nova (afinal, ia aparecer na televisão) e lá fui eu. Por acaso o estúdio de gravação era pertíssimo da casa dos meus pais (eu ainda era solteira), talvez a uns 2 km. Levei a minha mãe comigo e até lhe disse: "Mãe, arranja-te bem porque também vais aparecer, não te esqueças que quando eu estiver lá no meio, eles filmam a família". (Viram bem a minha confiança?) E lá foi a sra. mãe toda gira e arranjada.
Chegámos ao estúdio e mandaram a mãe para a plateia, enquanto a estrela (eu) ia para a maquilhagem. Fui primeiro para uma sala de espera onde estavam outros concorrentes. Estranhei as caras de nervosismo porque eu ia muito descontrída. Muitos já estavam maquilhados e penteados. Eu devia ser das últimas. Lá me mandaram entrar para o gabinete onde estavam duas senhoras a tratar dos concorrentes. Sentei-me numa das poltronas e começaram a pentear-me. Entretanto entra outra pessoa e senta-se na outra poltrona. Vi através do espelho que era o apresentador da altura, Carlos Cruz, ainda nos seus tempos áureos de grande figura da televisão. Não me assediou, afinal eu já tinha passado dos 18 anos e pesava mais de 50 kg :))) (já cá faltava a piada de mau gosto).
Pedofilias à parte (sim, acredito que o homem não está a ser julgado por acaso), devo dizer que era das figuras que mais admirava na altura (e se calhar talvez ainda não tenha aparecido nenhum profissional como ele). Fiquei super excitada. Lá estava ele ao meu lado a fumar um charuto, a ser maquilhado e a atirar umas piadas que eu achei o máximo. Aí, foi quando me apercebi que aquilo não era uma brincadeira e foi também quando os nervos (os que me iriam matar) começaram a dar sinal.
Ficámos uns quantos à espera enquanto decorria a gravação de uma sessão, isto porque são gravadas 2 ou 3 por dia. Esta espera fez aumentar o nervoso miudinho. À medida que a hora se ia aproximando, mais vezes ia à casa de banho, mais nervosa ficava. Até que chegou a hora. Quando entrei para o estúdio e vi aquela gente toda sentada, aquele aparato todo, as máquinas, câmaras, técnicos...ia-me sentindo cada vez mais pequenina, pernas a tremer e, claro, cada vez mais nervosa. Olhei para o público à procura da minha mãe e lá estava ela a rir e a acenar, confiante na filha espertíssima que tinha posto no mundo e a pensar já na prenda que eu lhe iria oferecer com o os milhares (ainda eram escudos) que ia levar para casa.
Eu e os outros 5 concorrentes fomos para as nossas cadeiras e puseram-nos uma maquineta com os 4 botões (correspondentes às respostas A,B,C,D) que teríamos que ordenar. Sentía-me a fraquejar, a ficar sonolenta e tremia. Acho que já não era nervos, era pânico. Começaram a gravar o programa e acho que nessa altura, quando começa o genérico, apaguei. A partir daí, quase nem me lembro o que se passou a seguir. O CC lançou a pergunta, a tal para se ordenar, sei que carreguei nos botões por uma ordem qualquer. Quando apareceu o quadro com o nome e os tempos dos concorrentes, vi que errei na resposta. Não me lembro qual era a pergunta, não me lembro de nada. A única coisa que me lembro era do meu desejo de saír dali o mais rapidamente possível.
No fim da gravação fui ter com a minha mãe e expliquei o que se tinha passado e desatei num pranto. Ela lá me consolou como conseguiu.
Bom, tudo isto para dizer que em casa somos de facto os maiores, mas quando estamos lá, é completamente diferente. Invejo o sangue frio de alguns concorrentes e depois do que passei e de falar com um concorrente que conseguiu, tenho a certeza absoluta que aquela 1ª fase é a pior. Quando se chega às perguntas é mais fácil de controlar os nervos.
Percebo também as dúvidas dos concorrentes em algumas perguntas que julgamos elementares; o jogo feito pelo apresentador consegue pôr-nos a duvidar daquilo que achamos certo.
Foi uma experiência gira mas mais do que ter alguns conhecimentos, é preciso não ter sistema nervoso :)
P.S. Será que alguém teve paciência de ler isto até ao fim? :)