Ainda na adaptação à nova vida, o tempo tem sido escasso para poder actualizar escritas e leituras, mas aproveitando uma soneca da Leonor e como é tradição, vou tentar fazer o relato do parto uma semana depois, esperando que não me falhem os principais pormenores.
Tal como estava previsto, às 8:00H da manhã lá estávamos nós no Hospital. O dia amanheceu chuvoso. Nessa noite dormi muito pouco, claro, a ansiedade era enorme.
Depois de nos registarmos, encaminharam-nos para um quarto. Mandaram-me despir, preparar a roupa da Leonor, fazer um clister e deitar-me na cama. Até aqui foi uma auxiliar que nos acompanhou.
Às 9:00H iniciava-se uma longa caminhada para o parto; foi a esta hora que entrou a enfermeira que iria estar a tratar de nós durante a indução. Quando a vimos entrar no quarto não conseguimos deixar de ficar um bocadinho preocupados. Sabem aquelas enfermeiras que às vezes vemos nos filmes, de meia idade, ar austero, grandes, fortes e que nos ameaçam com grandes seringas? Pois era uma dessas. Queria uma daquelas boazinhas simpáticas, mas não. Calhou-me aquela e (como pude constatar mais tarde), ainda bem!
A enfermeira apresentou-se, ligou-me ao CTG e avisou logo que me iria fazer uma "maldade". Ora essa maldade era um toque. Lembro que na última consulta o meu médico me fez também um toque que não foi nada doloroso. Pois...isso não foi de certeza um "toque", foi mais uma cócega. Toques senti-os nesse dia e o primeiro logo ali, pela enfermeira "má". Foi horrível! O L. como estava no quarto, assistiu. Ainda perguntou se era necessário saír, mas ela disse que por ela, podia ficar. Ele ficou e deve ter-se arrependido. Bom, nesse toque que quase me chegou ao estômago, verificou-se que estava tudo muito verde. Ligou-me o soro que julgo já teriam oxitocina ou outra coisa qualquer para induzir contracções e ali fiquei calmamente, ainda sem dores. Cerca das 10:30H, aparece o meu médico. Outro toque daqueles... viu que já existiam contracções.
Continuámos assim até cerca das 12:30H, altura em que já tinha pedido umas 3 vezes a arrastadeira, pois a bexiga enchia muito rapidamente. As dores a esta hora já eram mais que muitas. Aparece-me então a enfermeira no quarto acompanhada da anestesista. Pensei logo que as dores iriam parar naquele momento. Mas não. Aplicaram-me apenas o catéter e foram-se embora. Esta parte também doeu.
Às 14H as contracções eram muitas e bastante dolorosas. Já não agentava de dores e disse-o à enfermeira. Ela fez novo toque (aí vão 3) e verificou que já existiam 3/4 dedos de dilatação. Decidiu então que era altura de introduzir no catéter da epidural o líquido milagroso. A sensação foi indiscritível. Um alívio tão grande, tão grande que era capaz de ficar assim 2 ou 3 dias. O médico apareceu entretanto e disse que o processo estava bem encaminhado e que talvez fosse rápido. Já a enfermeira não dizia o mesmo.
Às 16H já o efeito da epidural estava a passar. Novo toque (aí vão 4). Ainda os mesmos 4 dedos de dilatação. A coisa não estava a evoluír. Aqui começou-se a colocar a hipótese de cesariana. Devo dizer que por um lado essa ideia pareceu-me boa, pois já estava farta de tantos toques, farta de dores, farta de estar deitada, ansiosa, saturada... mas por outro lado, depois de tanto sofrimento, pensei que acabando numa cesariana, teria sido tudo inútil. E já agora, se pudesse ser, que isto tivesse o desfecho num parto normal. Mas as prespectivas não eram favoráveis. Reforço de epidural. O médico veio visitar-me novamente e depois de novo toque (aí vão 5) deu como como limite as 18H. A enfermeira apareceu novamente desta vez para fazer um descolamento de membranas. Saíu imenso líquido. Como estava sob o efeito da epidural, nem o toque do Dr. nem este descolamento me doeram. E nesta altura, sinceramente, já estava por tudo... O L. esteve lá desde o início, viu rigorosamente tudo o que me fizeram e já estava farto daquilo. Se eu passei mal, ele também não estava melhor e já só queria que aquilo acabasse.
Às 16:30H a enfermeira, já a desconfiar que a dilatação não ia mesmo evoluír, coloca um uma garrafinha de um medicamento qualquer na ligação do soro. Nem perguntei o que era. Só sei que a partir daí comecei a sentir grandes alterações no meu estado. Fui também fazendo alguma força de modo a facilitar a dilatação. Pensei que mal não iria fazer.
Às 18H a enfermeira volta lá e pergunta como é que eu me sentia. Disse que achava que as coisas tinham evoluído. E ela torceu o nariz; disse que duvidava que numa hora e meia houvessem grandes alterações. Fez-me novo toque e fez uma expressão surpreendida: "Dilatação completa, incrível! Daqui a 10 minutos vai já para o bloco, vou só dar-lhe mais uma dose de epidural"
Ne queríamos acreditar. Já esperava outro desfecho, mas de repente tudo mudou. Perguntei-lhe que garrafinha era aquela que me tinha posto no soro e se teria sido aquilo que tinha ajudado. Sorriu e disse o nome (que já não me lembro), que é um medicamento que ajuda a relaxar os músculos, logo ajudou o útero a ceder.
Deu-me então nova dose de epidural e levaram-me então 10 minutos depois para o bloco. Deve ter sido o tempo da anestesia fazer efeito e de chamarem o médico. A enfermeira má foi comigo.
Chegada ao bloco, mudaram-me para a marquesa. A equipa médica já estava pronta e falavam animadamente. O L. já estava devidamente equipado com bata, máscara, etc.
O Dr. fez novo toque e disse que ela estava mesmo ali á porta. Era só fazer uma forçazinha. Mandou-me então puxar uma e duas vezes. Do meu lado direito ouvia as palavras de icentivo do L. e do meu lado esquerdo da enfermeira má, que me apoiou bastante dando-me indicações e bastante força. Depois de duas "puxadas" mandaram-me respirar um bocadinho e aproveitei logo para pedir para, se possível, não me cortarem. O Dr. disse que ia tentar. Depois mandou-me fazer força novamente, desta vez com a maior intensidade possível. Fi-la e ouvi o Dr. a dizer "Está mesmo aqui, está mesmo aqui." Outra força e começo a sentir a minha filhota a saír. Não a vejo mas ouço o L. e os outros a dizerem que era cabeluda. O L. dizia emocionado, que já estava a vê-la e que estava a saír. Levanto a cabeça e agora sim, vejo a minha filha; de cabeça para baixo, comprida, clarinha e com uma cabeleira farta :) Às 18:23H nascia a Leonor.
Levaram-na para uma mesa logo ali ao lado e trataram dela. O pai estava fascinado e só dizia que ela era linda e que tinha o meu nariz. Pensei logo: coitadinha...
Enquanto foi observada pelo neonatologista (APGAR 9/10), a limparam e a vestiram, eu ia sendo cosida (tive mesmo que ser cortada), olhava fascinada para aquela coisa pequenina ali ao lado. Era mesmo linda. Eu tremia de frio e de felicidade. Ria e chorava... Foi indescritível.
Depois de tratarem de mim, puseram-me numa cama, colocaram a Leonor comigo e fomos para o recobro. Aí, sem ninguém, tivemos oportunidade de finalmente nos olharmos, torcarmos, de nos conhecermos. Perguntaram-me se queria amamentar e respondi que sim. Logo ali, coloquei uma mama a jeito para a Leonor pegar. Ela tinha o reflexo de mamar bastante apurado e virou logo a cabecinha ao encontro da mama. O problema eram os meus mamilos que não ajudavam. Mas eis que aparece a enfermeira má e dá o jeito à mama e à bebé. A Leonor começou a mamar. Sorri para a enfermeira e agradeci. Ela aí tirou a "máscara" de enfermeira séria e profissional e mostrou a pessoa amável, simpática e carinhosa. Ainda ficou ali um bocadinho connosco.
O L. apareceu passado um pouco e ali ficámos os 3 durante um bom bocado, antes de subirmos para o quarto onde nos aguardava uma verdadeira multidão... Mas os dramas do pós parto ficam para depois.
Foi um dia longo, passei alguns maus momentos mas valeu a pena. Todo o processo até chegar ao bloco de partos foi chato, saturante e doloroso. O parto propriamente dito, não terá demorado mais de 10/15 minutos e não me custou mesmo nada.
Não fiquei com quaisquer traumas, fui muito bem tratada, as enfermeiras foram fantásticas e pude constatar que tive imensa sorte com o meu médico. Maravilhoso, do princípio ao fim.
O pior desta aventura foi o pós-parto. Mas isso dá uma novela...
Quanto ao pai, não há palavras para descrever o apoio que me deu. Sei que estas coisas lhe custam muito, sei que sofreu bastante mas nem por um minuto vacilou e me deixou. Esteve sempre lá. Viu tudo, participou no que podia. Acho que sem ele não teria aguentado como aguentei. A presença dele em todo o processo fez toda a diferença.
Foi sem dúvida, o dia mais feliz das nossas vidas.
16 Comentários:
Minha querida,
terminei de ler este teu relato com uma lagrimita teimosa a querer-me descer pelo rosto. ;)
O meu parto, propriamente dito, também foi bastante rápido e coma santa epidural podemos disfrutar mais do momento.
Também chorei. Chorei muito assim que ouvi o primeiro choro do meu filhote (ainda só estava de cabeça de fora). Foi emocionante. Algo mesmo indiscritível aquilo que senti naquele momento.
Repetia tudo e se pudesse voltar atrás, acho que, mesmo tendo agradecido a epidural, já não a pediria.
Quantos aos famosos "toques", nunca nenhum me doeu como sempre li em relatos de parto. Talvez estivesse relaxada o suficiente para não sentir dor, talvez a posição do meu útero seja favorável a isso... não sei.
Irei ficar à espera do relato do pós-parto.
Joquinhas gandes
Sofia
:) Muito bonito :) Gostei de ler e emocionou!
beijinhos
Mariana
é sempe uma emoção e ainda bem que tudo correu bem!!
Deixo um grande beijinho!!
:)
Bem te 'dizia' para não teres medo ;)
O teu parto correu muito bem, claro que teve a parte 'chata' mas no fim foi rápido e passou tudo com a chegada da Leonor.
Deixo-te um grande beijinho.
Ai...até fiquei emocionada...
Mas o pior já passou e já tens a tua filhota linda nos braços!
Beijinhos
Parabéns minha querida :) muitas felicidades!
Desejo-vos tudo de bom no futuro!
Ao ler o relato do teu parto foi inevitável lembrar do meu, até porque tiveram semelhanças: também o meu foi induzido, prolongou-se bastante, tive a "bendita" epidural que me aliviou muitíssimo... Só já tinha 3 dedos de dilatação desde o início.
São momentos complicados mas necessários para vivermos a glória de sermos mães!
É o dia mais feliz das nossas vidas, apesar dos incómodos, das dores, de estar deitada na mesma posição horas a fio... Tudo passa no instante em que ouvimos os nossos filhos a chorar, o calor do corpinho deles em cima do nosso e quando existe a ligação maravilhosa entre mãe e filho que é dar de mamar.
Adorei o relato e relembrei muito o meu.
Beijocas grandes.
o meu parto da B. tb não foi facil dado q foram 12h com contracções
mas digo te q o q me custa mesmoé o pós parto.. eu qdpenso num 3º ilho,n me assusta o parto mas sim o pós parto.
aguardo o relato do pós parto;)
Que lindo| Muitos parabéns, correu muito bem!
Porque será que acabo sempre a choramingar com relatos de parto???
SEja lá eles como forem bons ou maus, rápidos ou longos, o culminar, o encontro é sempre liiiindo, e nunca se esqueçe não é??
Olha temos de combinar para apresentar os nossos pimpolhos quando eu for ai!!!!
beijinhos grandes
Lindo! Fico feliz por vocês!
:)))
Beijos grandes
Valeu!
Gostei de ler sobre tua experiência. Estou na 16 semana de gestação e procuro me preparar junto com meu esposo ao máximo através de leituras. Ler sobre sua experiência me dá mais segurança.
Muito bom e fico muito feliz pela tua vitória.
Que vocês sejam MUITO feliz com a pequena Leonor!
q coisa mais linda!
nossa, toda a felicidade a
SUA FAMILIA!
PARABÉNS
O TEXTO MAIS PERFEITO E COMPLETO QUE JÁ LI,PERFEITO,PARABÉNS !
Lindo mesmo, o meu sera da qui uns dias!
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